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terça-feira, 27 de outubro de 2015

Minhas mosquinhas-de-banheiro e o meu coração-de-ouro

Essa semana notei uma família de moscas-de-banheiro habitando o teto do meu box... Foi horrível ver aqueles vários (uns 30) pontinhos pretos se movimentando lentamente enquanto a suposta mãe, maior, voava e pousava, voava e pousava. A mosquinha-de-banheiro é essa aqui:

 
 
Pesquisando para escrever esse texto, descobri que as larvas da mosquinha criam-se nos ralos e encanamentos de banheiros (argh!); até hoje eu não sabia disso. Por isso, não soube responder quando meu filho mais velho (o mesmo que perguntou sobre o Papai Noel do outro post) qual era seu potencial nocivo (nas suas palavras: "ele faz mal pra gente, mamãe?").
 
Saí do banho hoje pronta para exterminá-los por esmagamento. Me vesti, peguei uma escada e um pano de chão (já que o inseticida de ontem não foi suficiente para assassiná-los). Ao me ver subindo as escadas com os equipamentos da minha guerrilha a essa hora da noite, fui questionada pelos meninos sobre meu propósito, e respondi naturalmente que ia matar filhotes de insetos que tinham nascido no meu banheiro. Não pensei que essa afirmação chocaria tanto o meu filho, que arregalou os olhos e, então, perguntou que mal eles poderiam nos causar.

Quando matei meu primeiro pernilongo na frente dele, já tinha me visto em situação parecida. Mas naquele caso, as picadas e zumbidos foram considerados por ele maldades suficientes para justificar suas mortes. Agora, com as moscas, nem passou pela minha cabeça dizer que suas patinhas poderiam estar cheias de sujeira, pois eu nem sabia disso; então fiquei sem palavras e disse que, na verdade, elas não nos causavam mal algum. Disse isso e paralisei; conheço o eleitorado e já sabia o que viria na sequência. "Deixa eles viverem, mamãe!" - era uma ordem, acompanhada de uma cara feia (ele chegou da escola hoje dizendo que aprendeu a fazer essa cara quando não gostava de alguma coisa). "Deixa eu ver?" - saiu correndo para o banheiro. Nesse momento, eu já joguei a toalha, estava atarefada com jantar para pôr à mesa, uniformes para ajeitar para o dia seguinte; então desci de volta conformada, pronta para guardar a escada e o pano; retomaria a tarefa da mosquinha amanhã. 

Já estava lá embaixo, vejo que ele desceu até metade da escada e diz: "Deixa essa história pra lá, mamãe, eles estão na casa deles, deixa eles morarem no banheiro." Não respondi. "Tá bom, mamãe?" Respondi que sim. A história da mosca realmente o tocou.

Já percebemos, aqui em casa, essa característica dele há algum tempo. Não há definição melhor do que dizer que é um coração-de-ouro, mas me debato para saber se acho uma qualidade ou ponto fraco. Deve ser algo bom, no fim das contas, querer bem a tudo e a todos, ver somente o lado bonito das atitudes das pessoas, mal perceber quando alguém não é tão receptivo, esquecer depressa uma ofensa, guardar níveis negativos de rancor. Mas eu, como mãe, me preocupo demais com todos os calos que ele vai ter que criar ao longo da vida. Vai ter que aprender a dizer não, a enxergar a malícia inerente ao ser humano (ele deve ter a dele também, vai ter que deixar aparecer em algum momento), vai precisar entender as sutilezas que regem a vida em sociedade, o conceito de inveja (já tentei explicar umas três vezes, ele não captou).

Amanhã vou explicar para ele que as mosquinhas são sujas, e que (ufa!) existe uma razão para matá-las. (Aliás, ele não entendeu até agora porque matamos bichos para comer; de duas uma: ou ele entende na aula de biologia a dinâmica entre presa e predador, ou vira vegetariano). E vou aproveitar que ainda se trata de mosquinhas sujas, algo bem palpável e bem simples de compreender...

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