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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Aprendendo a fazer escolhas

Meus meninos ganharam da minha sogra, cada um, uma caixinha muito fofa para guardar os dentinhos de leite que forem caindo. Amei! São essas aqui:



Mas quando caíram os dois dentinhos de baixo do meu filho mais velho em julho desse ano, eu já tinha implementado a lenda da fada-do-dente na minha casa. Caíram os dois de baixo na mesma semana, e repetimos o ritual nas duas ocasiões: escovamos o dentinho, escrevemos carta. Ele mesmo escreveu, quase morri de amores:

"Fada do dente - pegue meu dente - me dá uma moeda ou um presente" 

Colocamos ambos (dente e carta) embaixo do travesseiro e, na manhã seguinte, ele achou a moeda (na segunda vez, com o intuito de inicia-lo na arte da economia, deixamos uma nota um pouco mais valiosa e levamos à loja para que ele mesmo escolhesse o presente da fada - incrementando a lenda!)

Ele adorou, foi mesmo mágico. O mais novo ficou ansioso para entregar seu dentinho, quando chegar a sua vez, em troca de moeda (ou quem sabe uma notinha maior). Mas se eu aparecesse agora com as caixinhas fofas, minha historinha iria perder um pouco o encanto, já que se desinteressariam por entregar o dente. Assim, resolvi guardá-las até que, daqui um tempo, quando, desfeita a magia da fada naturalmente, eu mostraria os dentes, todos, guardados e, juntos, colocaríamos nas respectivas caixinhas (já faz quase seis anos que sou mãe e ainda não aprendi que esses momentos fantasiados na nossa cabeça materna NUNCA saem como pensados...)

Ontem, meu afilhado esteve em casa; eu trouxe direto da escola (a mesma dos meus filhos), e eis que de repente ele tira da mochila A CAIXiNHA, que ele também ganhou da minha sogra (avó dele também) e, é claro, meus meninos piraram. Também é claro que eu tive que dizer que a vovó deu para cada um deles uma caixinha igual, e que eu estava guardando. Festa! Dormiram com o porta-dentinhos.

Hoje cedo, o mais velho acordou triste. Percebeu que já havia entregue seus dois primeiros dentes para a fada e que, portanto, sua caixa ficaria incompleta. Procurei ajudá-lo, como sempre faço. Disse que isso não era um problema, pois ele tinha recebido em troca moeda e presente (ufa, ainda bem que da segunda vez não foi só uma moeda!), e que a fada teria para sempre os seus dentinhos, como recordação sua. Procurei fazê-lo ver o ganho da outra situação, a da entrega do dente, embora, naquele momento, estivesse claro que a satisfação estava em completar a caixinha. Ele aceitou, calado. Ficou pensando.

Depois, ele falou mais alguma coisa relacionada aos próximos dentes; está confabulando consigo mesmo sobre os ganhos e perdas de entregar o próximo dente para a fadinha ou guarda-lo na caixa fofa, cheia de buraquinhos . Vou deixar que ele pense sozinho. Tem coisa mais espetacular que ajudar nossos filhos a fazerem escolhas informadas aos cinco anos de idade??!! Eu mesma só fui ter noção da importância de se optar com consciência há pouco tempo. Isso ajuda muito a aceitarmos as perdas de uma escolha com certa facilidade, pois teremos colocado na balança e concluído que os ganhos da uma determinada opção têm mais valor para nós, na nossa vida, naquele momento. Isso ajuda, inclusive, a que nos conheçamos melhor, nos obrigando a avaliar nossas prioridades. E serve também para que, conscientes de nossas opções de vida, não nos frustremos por não termos em mãos algo que nós mesmos deixamos para trás.

A caixinha de dentes servirá como um grande aprendizado para o meu menino; quero lembrar dela sempre e continuar estimulando neles o exercício das escolhas, das perdas e ganhos, do autoconhecimento.

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