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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Lado negro da força

Tenho medo de não estar aqui amanhã. Soube sobre um tiroteio nos Jardins e outro no Morumbi. Esses foram o que eu soube; houve muitos e muitos mais em São Paulo... Um conhecido produtor de TV teve uma doença grave, e foi embora de repente, sem deixar aviso, deixando só as saudades... Eu tenho medo da dengue, do zica... Ao fazer o percurso diário casa/escola, vejo tantas casas onde pode haver focos do Aedes, vasos ou garrafas pet com água parada, locais onde carros velhos são abandonados, terrenos vazios cheios de mato -- facilmente uma pequena poça pode servir de criadouro do mosquito... Tenho medo da violência urbana, do susto de um assalto não fatal, das perguntas difíceis que meus filhos possam vir a fazer numa situação dessas; temo, ainda mais, um assalto fatal... Nem falo da política, fujo das notícias para não me angustiar.

Temo ser obrigada a sair do meu mundo otimista, um mundo que eu criei com esforço em busca de ser mais feliz a cada dia. 

Temo uma batida de carro num dia de trânsito caótico, assusto com buzinas nervosas, acho que não precisa ser assim. Entristeço com comentários maldosos, não precisa ser assim. Vejo coisas boas em cada um e em todos. Temo que a ênfase que normalmente se dá ao negativo ofusque ou acabe com o que há de positivo nas pessoas.

Não gosto de pensar como, muitas vezes, os próprios pais podem criar adultos problemáticos, problemáticos consigo mesmos, com dilemas internos, indivíduos mais tristes e mais complicados. Não sou perfeita, muito longe disso. Mas enxergo sutilezas do mundo infantil, como se ele tivesse sido preservado em mim. Hoje vejo com clareza a importância brutal da autoconfiança, do entusiasmo. Há que se permitir que as crianças cresçam em um caminho reto, no seu tempo, com permissão para avançarem (em termos de maturidade) e voltarem um pouco para trás se necessário. Crianças precisam ser crianças, sob pena de se comprometer seu futuro, talvez já um futuro próximo. Crianças precisam ser alegres; é dessa fase que, inconscientemente, vão se lembrar nos momentos desafiadores das suas vidas; o modo como viveram nessa etapa é que vai ditar como devem agir em situações conflituosas (com calma ou com agressividade, de modo racional e lógico ou por impulso, de forma otimista ou pessimista, olhando o todo ou apenas os próprios interesses, querendo construir ou destruir etc).

Detesto estar escrevendo sobre isso, sobre o ruim. Me culpo. A culpa, inimiga mortal. Tenho lutado contra ela e tenho tido sucesso. Não me lembro de terem me culpado na infância, mas quem pode ter certeza? Parte perfeita, presente de Deus: o AGORA. Hoje tenho consciência que me culpo demais, pelo mundo. Mas não temo a culpa que mora em mim; a ignoro com todas as minhas forças (do bem). Já basta. Tempo presente: nosso melhor e mais precioso ativo, não temos o direito de disperdiçá-lo; deixar para depois é um desrespeito a nós mesmos.

Há sempre duas forças opostas no meu dia-a-dia: 1. a vida que despeja informações (boas e más), minha mente que as interpreta de cara de uma determinada maneira (boa ou má), meus imprints da infância (bons e maus), meus humanos maus sentimentos (culpa, egoísmo, raiva etc) e 2. meu consciente esforço para tornar tudo isso positivo, devolver estímulo e motivação para a minha vida, afastar o que é do mal, regar o que é do bem. Luto sempre, pelo time do bem. Passou o tempo em que deixava a vida fluir, inerte; quando era assim, o lado negro da força sempre vencia. Hoje não. Entendi, de uma vez por todas, que para fazer vencer o que é bom, prazeroso, alto astral, é necessário atenção, atitude, movimento, esforço e vontade. As melhores coisas da vida, as mais singelas, os sentimentos mais gostosos, não vêm por osmose, não entram em nós pelo dom do Espírito Santo. Tem que empurrar pra fora o que é contrário a eles.

E sim, o feio está em toda parte. Pise fora de casa, verá um mendigo, sujeira na rua, obras mal (ou não) terminadas na cidade, ciclovias inúteis, céu e rio poluídos, ônibus abarrotados, com azar presenciará (ou sofrerá) um assalto, insulto, um olhar de raiva, tristeza ou mesmo inveja. Lute. Ignore, ore, ajude, conforte, aceite, se acalme, crie alternativas possíveis, faça alguma coisa na direção oposta, seja criativo. É o que tenho feito. Tenho me sentido bem, apesar de tudo.





 

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