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segunda-feira, 7 de março de 2016

Ele se foi, mas ficou

Quando cheguei em casa ontem, meu peixinho beta azul não estava... (Na verdade, meu peixinho beta azul era do meu filho mais novo). Vazio. Um peixe... Ainda tenho o vermelho, aquele que, no início, era mais espertinho... (Na verdade, meu peixinho vermelho é do meu filho mais velho). Um peixe... Quão estranho pode ser olhar para um aquário vazio, especialmente quando ele fica ao lado de um outro, cheio. Deixaram o aquário sem água; mantiveram as pedrinhas, o barquinho por onde o peixe passava, as plantinhas artificiais. Falta só o peixe azul... Não tenho ideia da causa da sua morte. Suspeito que intoxicação por terem lavado o aquário com detergente, mas é só uma hipótese. 

Esquisito, ele era só um peixe, pequeno, frágil. Mas tinha vida, assim como nós. Nadava rápido na direção de quem se aproximava do aquário, por certo instinto de que era chegada a hora da alimentação. Era gostoso procurá-lo em meio às plantinhas, descobri-lo escondido dentro do barco. Acolhemos o peixe azul como parte da nossa família, juntamente com o vermelho. Eram dois, o parzinho. 
Com o passar do tempo, fui aprendendo a me desapegar do material, mesmo. Mas o peixe não era material, ele era vida. E me acostumei com essa vidinha azul se movendo no cantinho da minha copa.

Está sendo ruim o sentimento de perda que a morte do peixe azul me causou. Explicamos para o Lucas que peixes beta têm vida curta e ele aparentemente está bem com a informação. Mas eu, eu não estou tão bem.

Para mim, a morte do peixinho deixou um espaço em branco, como deixam todas as vidas que passam pelas nossas vidas, e se vão. O peixe vermelho permanece (bem mais sossegado, suponho, pois agitava-se de vez em quando ao notar o azul no outro aquário -- peixes beta macho atacam-se por natureza). Mas o peixe vermelho não é o azul; eles eram dois, e um se foi. É óbvio que vou esquecer do meu apego ao peixe azul daqui a um tempo. Outras memórias mais lindas e mais significativas vão ocupar o lugar do peixinho. Mas enquanto o tempo não passa, vou ter que aceitar esse vácuo, até que o vazio, aos poucos, se vá.

Esse é o ciclo: vidas que entram nas nossas vidas, deixam marcas (profundas ou superficiais) em nós e, muitas vezes, nos deixam, mas deixam lembranças e, assim, permanecem em nós, por pouco ou muito tempo, ou, conforme o caso, para sempre, enquanto durarem as nossas vidas.

Eu realmente não faço ideia do que se passa pela cabeça de um peixe beta, mas sei um pouquinho da mente humana e tenho certeza de que Saint-Exupery estava certo: "Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si. Levam um pouco de nós." O peixe azul  deixou muito de si no meu lar; e ele é apenas um simples, delicado e frágil peixe azul....



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