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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Medo

Eu venci meu medo. Faz quatro anos que quero marcar no meu corpo as iniciais dos meus filhos: F e L, mas não tinha, até agora, conseguido coragem para ir em frente. Também não tinha até agora questionado a mim mesma o que me segurava. Eu já tinha sim, por diversas vezes, me perguntado porque eu queria fazer a tatuagem, e a resposta era fácil: meus meninos passaram a ser o sentido da minha vida desde que soube que carregava cada um dentro de mim. A vinda deles me abriu os olhos e o coração para tanta coisa boa, é tanto amor, gratidão pela vida, que acho natural o desejo de gravar suas iniciais comigo, como um símbolo mesmo, um ritual meu. Mas o que me impedia de concretizar esse desejo era obscuro para mim até poucos dias, quando finalmente descobri que se tratava de medo.

Nunca fui de ter medo do que as pessoas pensam de mim, nunca dei importância para a opinião dos outros (talvez poucas vezes), mas definitivamente não era esse medo que me segurava nesse caso. Qual era então?
 
Nas diversas ocasiões em que senti medo de verdade quando adulta, muitas vezes nos momentos em que tive de fazer escolhas, pensava demais nos "e se"s da vida, ia longe mesmo, ia no extremo, "e se eu mudar de país", "e se a profissão que eu quero não der certo", "e se eu tiver que lidar com um problema sério de um filho", "e se meu pai morrer", e por aí ia... Bom, tudo isso efetivamente aconteceu, e eu estou aqui, feliz, me sentindo melhor do que sempre. 

O medo que eu sentia nas ocasiões em que tinha de fazer escolhas roubavam muito da minha energia, pois dominavam minha mente e eu não conseguia direcioná-los, ou seja, passar por eles, ir em frente mesmo com medo, OU decidir, vez por todas, que, naquele caso, o medo tinha fundamento, e seria melhor não prosseguir (nesse caso, o medo teria cumprido seu papel: alertar diante de um perigo real). Já faz um tempo que descobri que a postura numa encruzilhada deve ser essa: avaliar as perdas e ganhos de cada uma das opções e optar consciente, sabendo que o ganho do caminho preterido ficou para trás. E ponto. Já faz um tempo também que percebi que nosso cérebro é criativo demais e que a vida é absolutamente imprevisível, de modo que quase nada adianta fazer suposições de acontecimentos futuros derivados de uma ou outra direção. Tudo pode acontecer de forma muito diferente do a gente imagina, ou pouco diferente, mas raramente as coisas acontecem exatamente como pensamos que seria. 

É claro que toda decisão deve ser informada. Eu mesma já agi impulsivamente muitas e muitas vezes, principalmente no começo da juventude. Agir por impulso é não avaliar as possíveis consequências dos nossos atos, e isso é péssimo; significa a possibilidade de sofrermos um efeito indesejado criado por nós mesmos. Mas o contrário é igualmente terrível: imaginar consequências inúmeras, muitas improváveis, e paralisar diante de um avalanche imaginaria de hipóteses. 

E precisamos saber que coisas ruins acontecem na nossa vida, as situações mais temidas podem sim aparecer (eu mudei de país - e fiquei longe da minha família por mais de dois anos; a profissão que eu sempre achei que queria não aconteceu; sofri muito por questões ligadas ao meu filho; e meu pai já não está mais comigo, pelo menos não fisicamente). E a gente dá SIM conta de todas essas circunstâncias, tem que dar.

Pensando nisso, resolvi prosseguir e escrever meus meninos em mim; não vi efeitos horrendos, e acho que posso lidar com as consequências que vi. Agora, onde quer que eu esteja, estou com meus amores no coração, no pensamento e na minha perna esquerda.







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